A Negra, 1923 Óleo s/ tela, 100 x 81,3 cm |
Pintura precursora do Movimento Antropofágico que só aconteceria em 1928. Esta figura de uma mulher nua, de grossos lábios, tendo a frente um seio pesado e pendente, sentada, de braços e pernas grossos e toscos, tem a aparência imóvel, como de uma imagem evocada ou de uma aparição saída de um flash de memória do passado. Como imagem é uma presença, como evocação está inerte, como um ser à espreita. Segundo um depoimento da própria artista, a imagem desta negra é fruto das histórias contadas pelas mucamas da fazenda em sua infância. Falavam de coisas que impressionaram a menina Tarsila, como o caso das escravas dedicadas a trabalhar nas plantações de café, e que impedidas de suspender o trabalho, amarravam pedrinhas nos bicos dos seios, para que estes, desta forma alongados, pudessem ser colocados por sobre os ombros, a fim de poder amamentar seus filhos, que carregavam as costas. Atrás da figura a artistas dispõe uma folha de bananeira, em diagonal semi-curvada. É um marco ou portal que entrelaça na composição a figura da negra, à frente, do imaginário brasileiro, com a parte do fundo, relacionada à disciplina construtiva cubista. De fato, o fundo da tela constitui-se em um exercício construtivo de formas-cores, que se desdobram em faixas na superfície, como uma trama bidimensional. Desta maneira, articula ou combina a estrutura autônoma do espaço pictórico com a composição figurativa. Esta obra já é um hibridismo entre os valores da terra e a atualização da linguagem plástica, proclamados pelos modernistas da Semana de 22. D. P. A. |
Divulguem
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